Prisão de ex-diretor adjunto expõe esquema de tráfico dentro de escola no Iapen

Mais uma vez, organizações criminosas conseguiram aliciar servidores públicos com a promessa de dinheiro fácil para uma tarefa perigosa.

Ney Pantaleão
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Fotos: Netto Lacerda.

A prisão de mais um servidor da educação que atuava dentro do sistema prisional do Amapá voltou a acender o alerta nas equipes que compõem a Segurança Pública do estado. Mais uma vez, organizações criminosas conseguiram aliciar servidores do Instituto de Administração Penitenciária do Amapá (Iapen) com a promessa de dinheiro fácil para uma tarefa perigosa: entrar com celulares, carregadores, drogas e outros materiais proibidos na penitenciária.

Prisão de ex-diretor adjunto expõe esquema de tráfico dentro de escola no Iapen

Mesmo com as ações firmes das Polícias Civil e Penal, que vêm ampliando revistas e apreensões, o fluxo de ilícitos persiste — e o caso que estourou esta semana mostrou como a porta de entrada estava mais vulnerável do que parecia. A prisão do professor Mauro Luís Ferreira da Silva, ex-diretor-adjunto da Escola Estadual São José — que funciona dentro do Iapen —, deixou claro o tamanho do problema.

Ele e o interno Lucas Ramos tiveram a prisão preventiva decretada após um desdobramento de outra investigação que já havia levado outro servidor, o servidor Wellington Briyon Borges de Oliveira, para trás das grades no dia 10 de outubro, por tentar entrar com cocaína e maconha para dentro do “Cadeião”.

Prisão de ex-diretor adjunto expõe esquema de tráfico dentro de escola no Iapen

Segundo a Justiça, o novo avanço das investigações revelou um esquema de tráfico de drogas e celulares dentro da própria escola, com participação direta de servidores e presos ligados à facção Família Terror do Amapá (FTA).

A decisão, assinada pelo juiz José Castellões Menezes Neto, determinou a prisão de Mauro — já exonerado do cargo pelo governador em exercício, Antônio Teles Jr. — e autorizou mandados de busca e apreensão na casa do professor, em Santana, em todas as dependências da Escola São José e na cela do interno Lucas.

Prisão de ex-diretor adjunto expõe esquema de tráfico dentro de escola no Iapen

As provas anexadas ao inquérito impressionam. Câmeras internas registraram o professor entregando celulares e drogas ao interno. Em uma das cenas, ele dá uma cueca com droga costurada na cintura, que o preso veste dentro da sala da direção. Os vídeos mostram que aquilo não era exceção: era rotina.

Em outro ponto das investigações, policiais encontraram mais uma cueca recheada de drogas escondida na caixa de descarga do banheiro da escola — o mesmo método visto nas filmagens.

Prisão de ex-diretor adjunto expõe esquema de tráfico dentro de escola no Iapen

O servidor Wellington, preso em flagrante no dia 10 de outubro, contou em interrogatório que Mauro participava do esquema, o que reforçou a tese de atuação organizada, com função definida para cada envolvido.

Para o juiz, a gravidade dos fatos não deixa margem de dúvida. Ele destacou que Mauro abusou do cargo público, tinha livre circulação dentro do presídio e acabou colocando em risco a segurança de todo o sistema. Lucas, por sua vez, era o responsável por distribuir o material nas celas.

A Justiça autorizou a apreensão de celulares, vídeos, documentos, dinheiro e qualquer outro item ligado ao tráfico. A polícia também recebeu permissão para acessar o conteúdo dos aparelhos apreendidos. As diligências devem ser concluídas em até dez dias. O processo corre em sigilo, mas o Portal Ney Pantaleão teve acesso ao inquérito, que não descarta novas prisões nas próximas horas.

Mauro trabalhava na escola há quase dez anos. De acordo com o delegado Estéfano da Silva Santos, em conversa informal, o servidor afirmou que recebia cerca de R$ 5 mil por aparelho que entrava no presídio. Mas tanto o delegado quanto o diretor do Iapen, Luís Carlos Jr., acreditam que o valor pago pela facção seja bem maior, considerando a força financeira das organizações criminosas dentro e fora dos muros. A investigação continua.

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