Vício em jogo do tigrinho transforma rotina de jovem em dias de tristeza, fome e isolamento, em Macapá

Ney Pantaleão
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Passar dias sem comer, trancada no quarto, sem ânimo pra viver. Essa tem sido a dura realidade enfrentada por uma jovem de 23 anos, moradora do bairro Zerão, na zona sul de Macapá. Vamos chamá-la de “Maria”, nome fictício usado para preservar a identidade dela. A jovem moça, bem afeiçoada, aceitou conversar com a equipe do Portal Ney Pantaleão, com uma condição: que sua história fosse contada de forma respeitosa, para que sirva de alerta e ajuda.

“Maria” contou que sua vida começou a desandar depois que conheceu o chamado “jogo do tigrinho”, uma plataforma de apostas online que promete ganhos rápidos. A indicação foi por intermédio de uma colega que dizia ganhar dinheiro todos os dias jogando. Movida pela esperança de também ter esse sucesso, ela não pensou duas vezes, fez um cadastro, depositou R$ 100 e desde então deu início ao que se tornaria um pesadelo amargando enormes prejuízos. “Achei que ia ser fácil ganhar dinheiro, mas só perdi”, iniciou a conversa.

Vício em jogo do tigrinho transforma rotina de jovem em dias de tristeza, fome e isolamento, em Macapá
Imagem: ilustração.

Perdeu tudo em dois dias
No mês de maio deste ano, a jovem viu seu salário inteiro desaparecer em apostas. Em apenas 48 horas, o que havia recebido como assistente parlamentar simplesmente se foi. Sem um centavo e com vergonha de pedir ajuda, passou dois dias sem conseguir comprar comida para os dois filhos pequenos. A fome só não bateu mais forte porque a mãe dela – avó das crianças – tomou conhecimento do fato e acolheu a família.

Viciada em jogo, jovem enfrenta dias difíceis
Na última sexta-feira (11), quando a equipe do Portal chegou à casa da jovem, a cena era preocupante. Ela estava deitada há mais de 12 horas em uma cama, sem comer nada, apenas bebendo água. Visivelmente abalada, com o olhar perdido e o corpo enfraquecido, resumiu sua dor em poucas palavras que dizem muito: “O vício em jogos destrói vidas e não é brincadeira.”

Dinheiro fácil é ilusão
O psicólogo Lucas Resende, que foi ouvido pela reportagem, explicou que os jogos de azar representam um risco real, principalmente para quem está um situação emocionalmente fragilizada. “Essas plataformas atraem com a promessa de dinheiro rápido e fácil, mas por trás disso existe um grande perigo. O acesso simples, a ilusão de lucro imediato e a ativação do sistema de recompensa do cérebro podem levar ao vício. Isso desencadeia comportamentos compulsivos, com consequências graves na vida pessoal, financeira e até familiar — como vimos no caso da jovem entrevistada”, afirmou o especialista.

Início do tratamento
“Maria” deu o primeiro passo para mudar essa realidade, iniciou um tratamento psicológico com apoio profissional, buscando vencer o vício e retomar o controle da própria vida. O relato desse caso liga um sinal de alerta sobre os impactos que esse tipo de jogo pode causar na saúde mental, financeira e emocional das pessoas.

Se você conhece alguém passando por uma situação parecida, não ignore. Converse, acolha e oriente a buscar ajuda. O primeiro caminho pode estar na Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima, onde há profissionais preparados para oferecer suporte.

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