PF mira delegado acusado de corrupção, extorsão e ligações com garimpo na fronteira de Oiapoque

A operação da PF mirou um nome bastante conhecido por quem vive na região garimpeira: o delegado Charles Corrêa.

Ney Pantaleão
5 Min Read

No extremo norte do Brasil, Oiapoque vive entre a calmaria do Rio Oiapoque e a tensão diária da fronteira com Saint-Georges, na Guiana Francesa. A cidade, conhecida como rota de garimpo legal e ilegal, está no centro do noticiário nacional desde a quinta-feira (4), quando uma operação deflagrada pela Polícia Federal mirou um nome bastante conhecido por quem vive na região: o midiático delegado Charles Corrêa.

PF mira delegado acusado de corrupção, extorsão e ligações com garimpo na fronteira de Oiapoque
Charles Corrêa foi abordado em Belém (PA) durante voo vindo do Rio de Janeiro. Foto: Divulgação PF.

Uma investigação do Portal ConectAmapá, dos jornalistas Domiciano Gomes e Max Miranda, aponta que, há quase dez anos, denúncias cercam a atuação do delegado, envolvendo suspeitas que vão de corrupção a vínculos com o garimpo ilegal na linha de fronteira. Documentos obtidos pela imprensa mostram que os alertas começaram a surgir ainda em 2016 — e nunca pararam de crescer.

UM HISTÓRICO QUE SE ARRASTAVA HÁ TEMPOS
Os primeiros registros formais contra o delegado surgiram na Corregedoria da Polícia Civil, em 2018. Um relatório assinado pelo então corregedor, delegado Francisco Sávio Alves Pinto, detalhou suspeitas de uso indevido de uma lancha oficial para escoltar barcos particulares no Rio Oiapoque — prática totalmente incompatível com atividades da corporação. Policiais que acompanhavam as missões relatavam estranhamento e diziam desconhecer o verdadeiro objetivo das ações.

PF mira delegado acusado de corrupção, extorsão e ligações com garimpo na fronteira de Oiapoque
Ao centro, o delegado Charles, ladeado por policiais militares, penal e seu principal escudeiro, o agente Lima. Foto: arquivo pessoal.

O relatório também aponta ligações diretas com garimpeiros, denúncias de extorsão, roubo de ouro, desaparecimento de materiais apreendidos e até proteção a contrabandistas que transportavam cigarros da Guiana para o Amapá. Parte do ouro supostamente desviado teria sido levado ao Rio de Janeiro e convertido em bens de alto valor registrados no nome de terceiros.

INVESTIGAÇÕES TRAVADAS PELO MEDO
As denúncias chegavam, mas quase ninguém aceitava depor. O medo de represálias dificultou o trabalho da Corregedoria, que pediu a quebra dos sigilos fiscal e bancário de Charles e de familiares próximos. Oficiais do Exército e da própria PF também relataram contradições entre números de presos e apreensões de ouro em operações realizadas sob comando do delegado.

PF mira delegado acusado de corrupção, extorsão e ligações com garimpo na fronteira de Oiapoque
Charles Correa e Daniel Lima foram alvos de mandados cumpridos pela PF. Foto: arquivo pessoal.

Uma gravação anônima enviada à Polícia Civil trouxe outro ponto de alerta: duas pessoas comentavam o roubo de embarcações de indígenas e afirmavam que o delegado teria se apropriado de 7 kg de ouro durante ações oficiais.

AMEAÇA DE MORTE E RESISTÊNCIA EM DEIXAR OIAPOQUE
O caso ganhou ainda mais tensão quando a PF confirmou informações sobre um suposto plano para matar o delegado. Mesmo assim, Charles resistiu à transferência da fronteira e chegou a acionar a Justiça para permanecer no município. O processo circulou entre Polícia Civil, Polícia Federal e Ministério Público por anos, sem conclusão definitiva.

A OPERAÇÃO QUE VIROU A CHAVE
A ação da PF desta quinta-feira é resultado direto desse acúmulo de suspeitas. Logo cedo, Charles foi abordado dentro de um avião, no aeroporto de Belém. Outro agente da Polícia Civil, identificado como Daniel Lima das Neves, que era visto com frequência na companhia do delegado também virou alvo.

PF mira delegado acusado de corrupção, extorsão e ligações com garimpo na fronteira de Oiapoque
A dupla era inseparável nas operações na fronteira que são de competência da União. Foto: arquivo pessoal.

Na empresa da irmã do investigador, os policiais apreenderam mais de R$ 1 milhão e 25 mil euros. Uma terceira pessoa foi presa em flagrante com arma de fogo. O rastreamento financeiro revelou movimentações criminosas: joalherias de vários estados enviavam grandes quantias para um posto de combustíveis em Oiapoque. O dinheiro seguia então para um agente público, indicando um esquema de lavagem ligado ao comércio ilegal de ouro.

PF mira delegado acusado de corrupção, extorsão e ligações com garimpo na fronteira de Oiapoque

O QUE DIZ O DELEGADO
Após a operação, a defesa de Charles divulgou nota afirmando que ele “jamais participou de qualquer atividade ilícita” e que sua carreira sempre foi marcada por ética e combate ao crime organizado. A equipe jurídica sustenta que nenhum elemento concreto foi apresentado e que o afastamento imposto é apenas uma medida administrativa padrão. Eles afirmam que confiam na comprovação da inocência do delegado.

Tem alguma notícia pra compartilhar? Envie no nosso WhatsApp clicando aqui ou ligue (96) 99123-0707.

Share This Article